Como reprodução da realidade, a fantasia não questiona outros aspectos mais importantes do que a conduta moral dos fortes e dos fracos. Não se questiona as origens do poder que algumas pessoas exercem, nem as formas discricionárias ou dissimuladas com que se utiliza dele, e muito menos se questiona a obediência de muitos, como se isso fosse um dever natural indiscutível.
Todos dever é recíproca de um direito, e vice e versa, mas o poder discricionário elimina as reciprocidades, confere a alguns o direito de mandar e impõe a outros o dever de obedecer. Essas questões formaram a célula inicial dos estudos sistemáticos sobre o poder, de onde se originou a política como disciplina científicas.
O estudo do poder ficou sendo, definitivo, o objeto da ciência política desde os primeiros anos do século XVI, tendo Maquiavel com seu precursor. Os conhecimentos acumularam-se, acompanhando o crescimento das ciências humanas, as transformações sociais, econômicas e culturais, a teoria e a prática da política e a ética. O homem contemporâneo já não precisa viver a realidade sob o desfazer das fantasias. Então ao alcance do homem médio tanto conhecimento sobre os fenômenos políticos, como também algumas condições para intervir neles, participar e ser um dos autores de seu próprio destino.
Esta não é uma empreitada parcial. Participar da vida política de uma sociedade significa exercer uma parcela, ainda que minúscula do poder que a governa. A maioria das pessoas nem ao menos tenta fazer isso, não se interesse e vive à margem da cultura política.
Não basta dizer que muitas pessoas não tem consciência das implicações políticas e em suas vidas porque lhes foram negados os meios e as condições para tanto. É preciso acrescentar que muitas pessoas não querem adquirir essa consciência pelas mais variadas razões, sobre tudo porque isso implica maiores preocupações, esforço, e obriga a fazer opções às vezes desagradáveis, no confronto entre valores.
A participação na vida política faz parte da luta pela própria vida, dentro de uma competição acirrada pelo poder, e muita gente acha que vive muito bem sem isso.
Pode-se, então, supor que a omissão da maioria facilita a concentração de mais poder em mãos dos poucos que tem alguma razão para gostar e querer. Seja por vocação, ambição, vaidade ou por outros motivos, aos que se dispões a fazer o que seja necessário ou conveniente para conquistar o poder.
O cidadão que se disponha a participar na vida política defronta-se com algumas condições básicas indispensáveis, principalmente duas.
A primeira condição é embrenhar-se na cultura política, adquirir conhecimentos no campo das ciências humanas, fazer escolhas conscientes sobre os riscos e os inconvenientes possíveis, e aceitar os imperativos éticos acima de toda conveniência pragmática.
A segunda condição é empreender uma conduta política interativa – teoria e prática caminhando juntas, complementando-se reciprocamente.
Aos um longo caminho, cheio de transformações pelas quais passaram a organização do Estado e a organização da sociedade, é possível compreender que o Estado é apenas uma instituição nascida no ventre da sociedade, e que seu poder de decidir sobre a vida e a morte das pessoas também é uma força derivada das relações humanas na sociedade. O direito de mandar não é privativo de uns poucos privilegiados, e todos podem ter sua cota de participação nas tomadas de decisões, na formulação das leis e no estabelecimento da ordem, a qual todos terão de subordinar-se, mas por livre consenso e não por submissão compulsória.
O dever de obedecer pode ser apenas a contra partida dos que são conscientes de que o usufruto de direitos e a recompensa pelas contribuições dada ao bem comum.
Conhecer a teoria do poder poderá ser um estímulo ao desejo de exercer, solidariamente, a parcela de poder que cada um possui.”
Paulo Martinez
O texto acima, retirado do livro "Poder e Cidadania", de Paulo Martinez, pode parecer fora do contexto temático das "postagens" deste blog. Mas, mesmo que poucos tenham pouco interesse em sua leitura, ele é indispensável e o seu objeto, aqui, é dispertar ao leitor interessado, principalmente militar, para o seu poder ser o autor do próprio destino, pois entendemos que a política é o poder máximo dentro do Estado e é mister que cada homem e cada mulher tennha senso crítico e partcicipe da vida política da sociedade.
E, o nosso contexto é político na luta pelos nossos projetos e, assim, temos que ser ativistas politizados para que o objeto de nossa luta não seja descartado; para que a nossa força seja usada pelos nossos ideais de busca por dignidade e respeito.
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